Palácio de Camelot

Palácio do Reino de Camelot, governado por Arthur Pendragon.

Com a ordem de Havoc, todos os Mandamentos abandonaram suas lutas e se reuniram ao redor de seu capitão.

-Parece que esqueceram que nós viemos aqui com um objetivo em mente. – Sua voz era calma e explicativa. – Admito que inclusive eu me deixei levar e fui além do que deveria. Como consequência, por centímetros não perdemos a guerra.


-Então devemos dar a missão como cumprida e retornar? – Ariel questionou, torcendo por uma resposta positiva.

-Não. – O tom de seu capitão era sério. – Finalizaremos a missão, e então retornaremos.

-Mas Capitão, parece que os imbecis lá estão rodeando a Camille como formigas em um doce. – Vendrick apontou para os seus inimigos.

Havoc suspirou e se ajoelhou na frente de Lasas, algo que todos acharam estranho. Ele tinha um olhar assustadoramente... gentil. Até o pequeno achou estranho, mas não via malicia nos olhos escuros, sem o poder angelical ativo.

-O-O que quer, Capitão Havoc? – Questionou.


-Consegue trazer Camille com um portal? – Sua pergunta chocou a todos, especialmente ao Mandamento do Pacifismo.

-Isso é impossível! – Negou com veemência.

-Impossível ou improvável? – Havoc estava irredutível.

-Improvável... – Respondeu a criança.

-Então, pense comigo. – Ele ergueu o dedo para explicar mais didaticamente para a criança. – O pior que pode acontecer é você mesmo se livrar da traidora para nós, sem ela ter chance de retruque.

-E se eu trouxer um deles aqui? – Ele estava com medo de errar e ser hostilizado por Havoc.

-Acha que um deles, nesse estado, venceria nós dez juntos? – Sua lógica era perfeita.

-Não... – Havoc conseguiu fazer o pequeno Lasas entender que poderia ajudar. – É verdade! Eu... eu vou trazer Camille para nós, sem falhas!

Kaylane se aproximou de Lasas olhando para Havoc com estranheza, e se colocou atrás dele, segurando seus braços para ajudar na estabilidade, enquanto Havoc se afastava.

-Está tudo bem, querido. Só se concentre e a traga para nós. – Sua voz doce o fez ficar calmo, além de confiante pelas palavras de Havoc.


O garoto se concentrou e abriu um portal nas costas de Camille, e puxando a mão, o portal se mexeu engolindo a garota. E outro, atrás dele, a cuspiu, no meio dos anjos.

-Meus parabéns, Lasas. – Havoc falou olhando para ele. – Foi impressionante. – Ele soltou um leve sorriso, que fez o garotinho se alegrar.


-Agora, temos algo a resolver, não é Camille?

Ele puxou sua espada e apontou para ela, respondendo a pergunta de antes da princesa.







Tentando perceber o que seus inimigos faziam, o necromante tentava usar de conjurações, que prontamente eram desfeitas pela aura mágica emanada pelos seres mitológicos que estava enfrentando.

-Eles estão tramando alguma coisa... – Comenta o necromante.

-Não me diga, capitão óbvio. – Krioni estava irritado, e não podia deixar de descontar no necromante.


-Se me deixasse terminar de falar, talvez conseguisse pensar no que é.

-Eu sei o que é. Eles estão pensando em como levar Camille até lá.

-Por que eles querem tanto que eu esteja lá? – Questiona a princesa.

-Eles... – Krioni não queria responder, tinha medo da reação dos outros e não queria aterrorizar ela.

-Querem fazer um gang bang contigo. – Gwyndolin respondeu a primeira coisa que veio a sua mente um tanto quanto peculiar.


-O que é um gang bang? – Questionou a princesa.


-Algo que você não precisa saber. – Skanfy cortou a curiosidade.

-Mas se eles querem fazer isso, eu não preciso saber! – A garota retrucou curiosa e com medo.

-Não! – Lilian cortou novamente. – Eles com certeza não querem fazer isso. Mais tarde eu e a Skanfy te explicamos o que é, não é Skanfy?

-É-É... A gente explica, confia. – A fada respondeu a amiga.

-Então o que é? – Ela parecia irritada.


Antes que pudesse receber outra resposta, um portal abriu-se em suas costas e a engoliu.

Todos os membros da Saligia entraram em choque. Nier estava longe, e agora Camille fora capturada pelo inimigo, mas Gwyn não parecia estar apavorado, apenas concentrado. Ele se preparava para puxar ela para o lado, assim que Krioni voltasse o tempo.

Estava preparado para ser em um centésimo de segundo.

Em um milésimo.

-Krioni, você não vai voltar o tempo? – Questionou enquanto sentia o medo queimar seu rosto. – O que você está esperando?

-Não... tá dando... – Sua resposta tirou o chão do necromante.


-Eu acho que consigo transferir minha magia pra ti, se esse for o problema...

-O Tempo é exclusivamente meu, idiota. Sua magia não faria o relógio voltar.

-Então a gente meio que tem que correr pra salvar ela, né? – Ele se levantou de supetão, e começou a correr na direção dos Mandamentos. E apenas Asura o acompanhava.


-Vocês não vão ajudar ela, porra!? Eu vou morrer se for só com esse cabeça de vento! – Reclamou para os outros, que tomaram o choque de realidade e dispararam para cima dos anjos.

Krioni não conseguia se mexer direito, e sentiu o braço de Takashi o puxando para cima e dando o ombro para se apoiar.

-Desculpa, Takashi...

-Não temos tempo pra reclamar, vamos logo.


Assim, os dois começaram a correr atrás dos outros, que estavam chegando na frente dos Dez Mandamentos.





-Camille! – Ariel vociferou olhando para a irmã. – Por que você nos traiu? – Ela foi andando antes que qualquer outro o fizesse, inclusive Havoc apenas observou.

-Desculpe, mas... – A garota estava amuada e se encolhendo, querendo sumir da visão de todos ali. – Eu não te conheço. Meu único irmão morreu quando eu tinha cinco anos e–

-Para de besteira! Como você não me reconhece?! Eu sou sua irmãzinha, sempre fui! – Ariel gritava para Camille.


-Você deve estar se confundindo com outra Camille... Eu não sei o quão comum era esse nome três mil anos atrás, mas–

-A assinatura de suas almas são as mesmas. – Grayden a interrompeu. – Você é a Camille que procuramos. Não tente esconder, princesa de Éden.


-Éden? Eu sou a princesa de Lioness... – Ela parecia perdida.

Antes que continuassem seu interrogatório, as magias da Saligia puderam se sentir se aproximando. Havoc apenas estalou os dedos, e Kaylane, juntamente de Neliell, usaram uma magia de luz com água para prender todos e impedir que avançassem.

-Camille, apenas ig– Kaylane tapou a boca de Krioni com água, impedindo que ele falasse.

Ele estava cansado e abatido demais para tentar usar magia, o melhor que podia fazer naquele momento era tentar recuperar suas forças para que pudesse lutar em breve.

-Nos responda, Camille. – Havoc tomou a iniciativa, a puxando pelo braço e colocando em pé. – Por que nos traiu?

-Eu já disse que não sei do que estão falando! – Respondeu começando a se irritar. – Eu não conheço nenhum de vocês!


Os anjos estavam começando a se irritar, mas algo novamente os distraiu. Uma presença sombria se aproximava deles como um raio negro, repleto de ira.

-Elyonn, Nightwish, vocês dois conseguem lidar com isso? – Questionou o líder da equipe de anjos.

-Sim. – Elyonn sacou a sua foice.

-É claro! – Nightwish queria parecer ser útil, e se conseguisse segurar Nier, que Ariel odiava, talvez ganhasse alguns pontos com ela.

No momento que o Pecado da Ira chegou, Elyonn usou sua gravidade para derrubar Nier no chão, e não sabia que a foice ampliaria tanto assim o poder gravitacional que possuía. E usando sua hiper velocidade, Nightwish ficou em cima de Nier, segurando suas mãos para que não pudesse fazer nada e pressionando sua cabeça para baixo, para que não pudesse se levantar. Por mais que não parecesse, ele era bem forte.


-Sir Nier! – Camille gritou. – Deixem ele em paz! Sir Nier! Nier! – Ela gritava pelo nome dele, que fez Ariel se irritar.

-Que droga, Camille! Por que você sempre me troca por ele? Por esse demônio imundo? Por quê? Por quê? – Ela berrou com lágrimas nos olhos.


-Para de falar como se me conhecesse! – Camille gritou com medo da ruiva de olhos lilases em sua frente.


-Acho que isso responde todas suas dúvidas, Ariel. – Havoc interrompeu a discussão. – Ela não se arrepende de nada e quer fugir com ele novamente.

-Eu achava que se a gente conversasse você finalmente voltaria, mas... Acho que não se importa mais comigo. – Seus olhos estavam marejados, e Camille se sentia mal de ter magoado a garota. Mas o que poderia fazer? Ela não tinha irmã.

A princesa de Lioness tentou dar alguns passos para trás para se afastar da ruiva, porém acabou esbarrando em um homem de tapa-olho. Vendrick.


-Opa, nada de fugir. – Sua voz era calma e serena. Ele pôs as mãos em cima de seus ombros e olhou para a princesa de Éden. – Eu me sentiria mal se alguém fizesse isso no meu lugar, Ariel. É melhor que você o faça.

Ela olhou para Havoc, que assentiu com a cabeça. Eles definitivamente não podiam pedir para ela fazer aquilo. Era horrível para ela apenas pensar nessa possiblidade. Ela procurou refúgio em Kaylane, que estava andando em sua direção.

-Aqui, use minha espada. – Ela desembainhou o ar, e entregou na mão de Ariel, que sentiu pela primeira vez a espada invisível da Pureza. – Eu acho que... seria melhor se nenhuma de vocês visse isso. – Ela tinha um pesar enorme em sua voz. Antes de Lasas, Camille era sua dupla nos Mandamentos, e se dava muito bem com ela.



Ariel estava catatônica. Ela definitivamente não queria fazer aquilo. Apenas pensar nessa possibilidade era horrível. Camille notava o que ia acontecer, mas não conseguia se mexer. Vendrick era muito forte, e apenas segurar seus ombros era o suficiente para impedir que se mexesse.

Havoc colocou a mão nas costas de Ariel e a fez andar segurando a lâmina apontada para o peito de Camille, que estava tão chocada quanto a outra ruiva. Ambas sabiam que havia algum som de fundo, porém não ouviam nada. Apenas suas respirações e os passos lentos de Ariel.

A princesa de Lioness sentiu o aço gelado encostar no seu peito por cima da roupa. Era afiado, sentia o fio da lâmina rasgar facilmente o tecido de sua roupa. O contato da lâmina com sua pele fez um fino filete de sangue começar a escorrer pelo seu tórax, cada vez ficando mais grosso. As duas garotas sentiam lágrimas escorrerem de seus olhos por suas bochechas. Camille soltou um gemido de dor, que fez Ariel hesitar. Porém as mãos de Havoc impediram a hesitação, empurrando-as para frente.

Ariel lembrou-se de quando era pequena e estava com dificuldades de lutar, e lembrou de Camille a dizendo para sempre ir em frente nas batalhas, pois ela sempre cuidaria das suas costas. Sempre para frente.

Um tossido com sangue a trouxe de volta a realidade, vendo que a lâmina invisível começou a perfurar o osso esterno da menina de olhos verdes, que chorava muito em sua frente.

-Para, por favor... Isso dói muito... Eu não quero morrer... – Camille se perguntava por que tudo isso tinha que acontecer com ela. Se isso era consequência de ter reunido a Saligia ou se era de apenas ter nascido parecida com a irmã da garota que perfurava seu peito.

Ariel sentiu vibrações na lâmina de sua espada. Os batimentos acelerados do coração de Camille ressoavam como um terremoto por seu braço, porém com o empurrão que sentia, não conseguia mais parar. A sensação de furar o músculo com a vibração mais palpável, porém mais lenta parecia fazer o mesmo com o seu próprio coração.

A princesa de Éden chorava copiosamente olhando para o furo no peito da irmã, que só era mais penetrado pela espada invisível. Erguendo os olhos, viu os olhos amarelos de Camille. Amarelos. Os mesmos de sua irmã.

-N-Não se preocupa... – Ela vomitou um pouco de sangue. – Sua irmãzona aqui entende que... Isso não é culpa sua... – Ela ergueu a mão direita, já fraca, e limpou as lágrimas do olho esquerdo de Ariel. – Eu ainda... te... amo... tá bom...?

Deslizando da espada, o corpo sem vida de Camille caiu no chão, criando uma poça de sangue.








































Ariel chorava alto. Odiava ter que ter feito aquilo. A cena ficava ecoando em sua mente, como se estivesse sendo marcada a ferro e fogo. Sentiu que Kaylane se aproximou correndo e seus braços a envolveram.

-Calma Ariel, tá tudo bem! Isso não é sua culpa!


Os membros da Saligia, já soltos de seus grilhões, estavam em choque. Skanfy chorava tanto quanto Ariel, assim como Lilian e Asura. Takashi não sabia se tentava levantar para consolar Lilian ou se tentava olhar para Nier. Gwyndolin estava ofegante, tentando manter alguma compostura. Olhou para Krioni que continuava tentando recuperar suas forças, mas estava aparentemente calmo. Com certeza ele tinha algo em mente.

-Eu matei ela, Ayla! Eu... Eu matei minha irmã! – Ela apertava com força o Mandamento da Pureza. – Eu não queria fazer isso!

-Bom, nosso trabalho está feito. – Havoc avisou os outros Mandamentos. – Vamos retornar.

-Havoc! – Ariel berrou com raiva. – Por que você fez que eu fizesse isso?

-Era nossa missão. Apenas a cumprimos a mando de sua mãe.

-Se estamos fazendo o que minha mãe, a Imperatriz manda... – Ariel respondeu chorando. – Eu te ordeno como princesa de Éden a renunciar o posto de capitão dos Dez Mandamentos!

Ariel finalmente se sentia pronta para assumir a liderança, e usou sua posição como justificativa. Todos os outros se chocaram com a forma que ela se impôs.

-Como se a filha de uma usurpadora fosse mandar em mim. – Havoc se aproximou de Ariel, com uma magia assustadoramente grande.


-Você acha que eu vou receber ordens da filha da assassina de meu pai, o verdadeiro Imperador? Ou você acha que a sua mãe é a primeira Imperatriz, como ela gosta de mentir?

Ariel arregalou os olhos marejados. Havoc sempre soube se portar melhor que os outros com nobres, melhor até mesmo que Grayden. A gentileza que demonstrou com o pequeno Lasas também vinha dessa educação, possivelmente.


-Não pode ser...! – Ariel falou, em choque.

-Mas é. – Havoc se virou de costas para Ariel, olhando para Vendrick, fazendo uma reverência. – Vendrick, você foi meu companheiro por tantos anos nos Dez Mandamentos, e me sinto um pouco mal de ter escondido isso de você. Espero que não se importe.

-Eu só tenho uma pergunta: Se você se tornar o Imperador, eu vou poder me divertir tanto quanto nesse Império?

-Não. – Respondeu friamente, erguendo a cabeça com um sorriso. – Vai se divertir bem mais, General Vendrick.

-Então está perdoado, Imperador Havoc. – Respondeu com um sorriso se aproximando, assim como os outros Mandamentos.


-Eu nunca notei essa história em sua cabeça, apenas a de um garoto abandonado... – Grayden comentou um pouco confuso.

-Tive que criar uma fantasia para escondê-la. Não exatamente de você, mas de qualquer outro que pudesse usar isso como arma. – Respondeu o príncipe Havoc.

-Compreendo...

-Se é assim, eu abandono os Dez Mandamentos! – Ariel respondeu, e Nightwish se preparava para fazer o mesmo, assim como Kaylane e Lasas.

-Opa, eu tava certo! – Vendrick gritou sorrindo, segurando Ariel como fizera antes com Camille. – Aí Grayden, tem como fazer o que você fez com a Yuki com a Ariel? Eu acho ela tão bonitinha...

Ariel sentiu novamente seu chão sumir, e Nightwish sentiu um grande ódio em seu peito. O Mandamento da Verdade olhou para Havoc, que apenas deu de ombros, sem se importar.

-Não! Não, sai de perto de mim! – Gritou para Grayden, que colocou as mãos em sua cabeça e bagunçou a mente da Mandamento da Honestidade.


-Ah... Vendrick? Onde estamos? – Respondeu calma e olhando serenamente para ele.

-Na floresta das fadas. – Respondeu sorrindo e pondo a mão em cima da cabeça de Ariel. – Depois eu arranjo algo pra ti, Grayden. Você mora no meu coração.

-Eu mesmo cobrarei quando precisar. – Sua voz era calma, enquanto se dirigia a Nightwish. O garoto entrou em choque no instante que viu que Ariel estava tratando Vendrick como sempre o tratou, se não até com mais intimidade.

E as coisas só pioraram quando viu que Grayden se virou para ele.


-E você, é melhor que não fale sobre isso. – Encostou as mãos na cabeça do Mandamento da Honra, mexendo em sua mente para que não pudesse falar sobre isso com Ariel, ou fosse incapaz de trair Havoc. – Precisarei fazer o mesmo com você, Kaylane?

A Mandamento da Pureza segurava com força a mão de Lasas, e tinha medo do que Grayden faria com ela. Não queria se tornar uma escrava, então...

-Não. Eu sou um membro de Éden, servirei sempre ao meu Imperador. – Com sua resposta, Grayden se virou para voltar sua direção à Havoc.


-Já que é assim, poderemos voltar para Camelot. Ou melhor, já que agora esse é meu reino, vamos mudar o nome. Ele será em homenagem ao meu falecido pai, Avalon Bryer. Iremos para Avalon.

Antes que eles pudessem abrir suas asas para levantar voo, uma montanha se ergueu atrás deles. Esqueceram completamente que um dos quatro Cavaleiros do Apocalipse estava atrás deles.


-Eu vou... Eu vou... Trucidar cada um de vocês, seus anjos de merda! – Nier se levantou, com uma quantidade de magia negra que nunca algum havia sentido antes. Me desculpa, Camille... Não vai dar pra manter aquela promessa.

O medo tomou conta de todos os Dez Mandamentos. A forma de Nier estava mudando para a Force, sem sequer fazer um rito de transformação como todos precisam fazer. Se fosse apenas a sua Force, eles ainda tentariam manter a calma. Porém, ao ver que uma carapaça sombria se formava ao redor da transformação, era como se gelo deslizasse em suas costas.







Arthuria e seus Cavaleiros correram a toda velocidade para alcançar Krioni e a Saligia. A explosão de magia negra era onde eles estavam, então talvez estivessem em apuros, mesmo que a magia negra fosse de Nier.

-Krioni! – Ela gritou quando sentiu as mãos cadavéricas de Gwyn a empurrando para baixo.

Uma lufada mágica passou por cima da sua cabeça e da Távola Redonda. Se esgueirando, eles se aproximaram e viram os Pecados no chão, e o corpo de Camille perto dos Mandamentos.

E alguma coisa demoníaca, que julgava ser Nier. A presença dele era hostil e amedrontadora. Não era nada como o capitão da Saligia que conheceu alguns dias atrás ou em histórias de Krioni. Eles se aproximaram dos outros e Arthuria questionou o mago o que era aquilo.

-Uma Indra. Uma Indra usando a Force. – Ele parecia aterrorizado. – Eu não esperava que veria algo desse tipo vindo do Nier...

A Rainha de Camelot parou para observar (ou tentar) Nier. As chamas de sua magia se apossaram de seu corpo, e sua forma demoníaca estava livre. Nunca havia visto a forma verdadeira de um demônio, e Krioni parecia ter péssimas lembranças de ver algo assim.





























-O que a gente pode fazer? – Questionou a rainha.

-Fugir. Só isso. – Ele tinha pesar em sua voz. – Takashi, você é imortal. Pega o corpo da Camille o mais rápido que conseguir. Já perdemos muito tempo.

-Mas e o Nier?

-Esquece ele, me traz o corpo da Camille.

-A gente vai abandonar ele aqui? – Questionou Asura.

-Esquece. Ele. – Krioni estava se irritando.

-Mas–

-Eu mandei esquecer ele! – Gritou irritado.


-Se a gente levar ele, nós que vamos morrer! E vai demorar muito, Takashi? Eu dei um Tesouro Sagrado para Camille que prenderia sua alma no corpo caso ela morresse nesse cenário, e quanto mais tempo passa, mais fraco fica! Se você não se mexer, vamos perder ela e ela vai entrar novamente no processo da reencarnação!

-Reencarnação?

-Sim, depois eu explico.

Takashi ouviu o que Krioni falou, e disparou para o meio do combate, ativando sua Dragon’s Greed. Golpes entre os Mandamentos e seu capitão eram trocados e as vezes sobravam para ele. Numa dessas, sentiu seu braço sair voando, e ignorando a dor, chegou até Camille. Sentiu um nó na garganta vendo seu rosto sujo de sangue lágrimas, com uma expressão triste.

Com uma lágrima solitária escorrendo de seu olho, agarrou a garota pela cintura e disparou de volta para seus amigos. No caminho, outro ataque o atingiu, fazendo uma perna ser cortada, mas em um salto, conseguiu chegar.

Krioni deixou todos o mais perto possível e usou o resto de magia que ainda tinha para teleportar todos dali, em direção à Lioness. Quase sem se manter em pé, estavam novamente no Delito.

-Gwyndolin, me escuta bem... Infelizmente você é o único que eu posso confiar pra fazer uma cirurgia, então se você errar um milímetro sequer, eu juro que te torturo por toda a eternidade.


-Eu já abri mais corpos que você, eu consigo fazer sozinho, se estiver muito can–

-Se você ousar tentar fazer uma cirurgia nela sozinho, você vira ração de cachorro.

-Tá bom, tá bom... eu só queria ajudar...


-Arthuria, pessoal da Távola, façam logo uma mesa mais comprida para podermos dar um jeito nisso!

A Távola Redonda logo se mexeu para juntar mesas quadradas e retangulares, criando um lugar para que os dois pudessem realizar a cirurgia. Os Pecados, por sua vez, se sentiam inúteis. Deixaram sua amiga morrer e tudo que podiam fazer era observar. Skanfy chorava baixinho num canto, a experiência recente foi demais para ela. Vendo isso, Asura se aproximou dela e a abraçou em silêncio.

-Asura...


-Se você tem tempo pra ficar abraçando sua namoradinha, você tem tempo pra me ajudar. – Krioni o agarrou pela gola da camisa, o colocando em pé e entregando um frasco com o sangue de Camille. – Você entende de sangue. Você vai achar um sangue compatível com o da Camille. Eu não me importo se você precisar trazer um cadáver ou uma pessoa sequestrada, eu preciso de um sangue compatível pra repor em uma transfusão. E sem reclamações! – Largou o vampiro, que saiu correndo com medo de Krioni atrás de sangue.

Gwyndolin estava do lado do corpo, influindo sua magia para dentro da garota, fazendo o sangue voltar a circular. Ele invocou um morto que agarrou a mão de Lilian e a de Skanfy, para elas o ajudarem. Ambas estavam chocadas demais para conseguir fazer qualquer coisa que não fosse alcançar objetos para eles. Pegando uma tesoura, cortou a camisa dela, deixando tudo a mostra para o ferimento.

-Cacete, furaram o osso... Por sorte o golpe foi apenas no coração, não perfurou o pulmão... Embora tenha um corte, mas isso é o de menos. – Comentou olhando enquanto começava a abrir a pele. – Vamos precisar de outro coração...

Krioni olhou para Takashi e usou uma magia para abrir seu peito, arrancando seu coração. Lilian pensou em protestar, porém o olhar fulminante do mago a fez ficar em silêncio. Usando magia, readaptou seu tamanho para o mesmo de Camille.

-Time Standing. – Falou congelando o tempo em volta de Camille, num raio de dois metros.

Apenas Gwyn se mexia lá, enquanto continuava a cortar os ligamentos. O mago se aproximou e ajudou o outro, ambos fazendo movimentos milimétricos para desprender o coração da garota. A anatomia era um pouco diferente das outras raças, devido ao fato de Camille também ser um anjo. Mas mesmo assim, o conhecimento dos outros corpos era o suficiente para poderem fazer o que precisavam.

Quando tiraram, fizeram o processo inverso, dessa vez com o coração de Takashi, que estava se levantando, recuperado. Ele pensou em se aproximar, mas viu que apenas os magos se mexiam, e inclusive os cabelos de Lilian e Skanfy estavam parados no ar.

-Krioni, a gente não poderia usar o sangue do Takashi? Se estamos usando o coração dele...

-Não. Apenas manter a Time Standing está consumindo toda minha força, e não adianta passar sua magia pra mim. Eu não quero.

-Sabe, você deveria engolir seu orgulho dessa vez, Krioni... Ele está fazendo de tudo para te ajudar. – Takashi comentou de fora, mas Krioni arremessou uma faca em sua cabeça.

Takashi esquivou e saiu do recinto, indo para a porta. Ele viu Asura correndo na direção do Delito, que estava no meio da Capital de Lioness. Ele carregava uma... panela?

-Eu trouxe o sangue! – Gritou para Takashi com lágrimas nos olhos, que poucas vezes em sua vida ficou tão surpreso. – Sai da frente, cara!


-Você é louco, porra?! – Impediu que ele entrasse no bar. – Ele vai te matar se ver que você trouxe sangue estragado!

-Mas é fresco!

-Só que saiu do corpo e pegou germes pelo ar! Você é imbecil ou se faz? Volta lá e traz gente, de preferência viva, já que duvido que você mataria as pessoas sem que elas perdessem muito sangue.

-E o que eu faço com esse sangue?

-Sei lá, enfia no rabo.

-Posso beber?

-Tanto faz.

Com isso, Asura bebeu aquela panela de sangue e partiu em busca de pessoas para servirem para a transfusão de sangue. Pouco tempo após isso, ele chegou com algumas pessoas que possuíam o mesmo sangue que Camille. De alguma forma, eles eram voluntários. Agora, se ele usou seu charme vampírico para isso ou se foi por vontade dos cidadãos de Lioness ajudarem a princesa, nem ele saberia dizer pelo nervosismo.

As pessoas entraram no bar e viram a sala de cirurgia improvisada. Gwyndolin puxou uma das pessoas e a jogou no ar, fazendo parar na Time Standing. Desse jeito, ele e Krioni puderam começar a fazer uma transfusão de sangue. Quando tiraram o máximo que poderia se tirar de uma pessoa e a manter viva, trocaram a pessoa, e fizeram esse processo até ter o sangue suficiente. Quando acabaram, todos os cidadãos saíram do bar.

Eles finalmente recolocaram o esterno dela, o restaurando e prendendo novamente, para então suturar o peito da garota. O mago então desativou a Time Standing, e colocou as mãos em cima do peito dela. Ele estava tentando calcular a descarga elétrica, porém não conseguia lembrar.

-150 joules; 2500 volts. Ela é um anjo, precisa de muita potência. – Respondeu Gwyndolin. – E esteve morta por muito tempo.

-Calado! Eu já ia me lembrar! – Ele fez a descarga que Gwyndolin disse, e injetando magia, sentiu o coração dela voltar a bater. – Porra! Deu certo!

Após isso, caiu sentado no chão, morto de cansaço. Gwyndolin fez o mesmo, e pensava em pedir para Asura arranjar uma... dama respeitável para lhe deixar deitar em suas pernas. Mas o morcego correio parecia estar cansado, então deixou pra lá. Até ver Arthuria chegar perto de Krioni, então ordenou o vampiro a achar alguma mulher disposta a servir de conforto para um poderoso membro da Saligia.

Quando ouviram o som da porta abrindo, Gwyndolin sorriu, mas logo seu sorriso se desfez. Um homem com uma criança recém-nascida veio correndo falar com eles.

-O Sir Krioni está?! – Gritou desesperado. O mago estava deitado no chão no colo de Arthuria, e não queria responder.


-É muito importante! Minha filha acabou de nascer, e ela não dá sinal de vida, mesmo estando viva!

O mago acabou se levantando em um salto, sem notar. Rapidamente se moveu até o homem, e pegou a criança no colo. Ela de fato respirava e seu coração batia, mas ela olhava fixamente, não mudava a direção para as magias coloridas e chamativas do mago para tentar ver algum sinal. Gwyndolin logo se pôs do seu lado, e colocou a mão na cabeça da criança.

-Ela... Krioni, essa criança...!

-Faz quanto tempo que ela nasceu?!

-Cerca de quarenta e cinco minutos...

-A mesma hora que a Camille morreu...

-Você batizaria ela com o nome de Camille, não é?

-Exatamente... Como sabe?

Gwyndolin saiu correndo e se pôs do lado de Camille, que já havia sido vestida por Skanfy. Colocou a mão na cabeça dela, como fez com a criança, e confirmou sua suspeita.

-Essa criança é a próxima Camille... – Comentou em choque.


-Senhor, sua filha... – Ele estava em choque. Não conseguia acreditar no que via. – Ela não tem alma.

Antes que o homem pudesse responder, a criança sumiu dos braços de Krioni, para em nenhum lugar ser vista.

Não é hora de você lidar com isso... Deixa isso pra outro dia. Uma voz falou na sua cabeça, fazendo ele se desesperar caindo de joelhos no chão.

Lilian guiou o homem para fora do Delito comentando sobre adoção, e Krioni ainda estava de joelhos. Uma criança sem alma seria um problema enorme para ele.

Mas havia algo positivo para se tirar daquilo. O destino de Camille era morrer naquele dia e reencarnar. Mas ela foi trazida de volta à vida. Isso significava que era extremamente difícil, porém era sim possível derrotar o destino. A profecia não precisaria se cumprir.


Retomando a compostura e com um pensamento positivo em mente, andou até Camille, que estava acordando. Todos se reuniram ao redor dela, que se levantou se sentando.

-Me manda pra floresta das fadas, Krioni. – Falou olhando para o mago.

-Mas–

-Sem mas. – Retrucou. – Me manda pra lá. – Seu olho direito brilhava em amarelo, mas o esquerdo continuava normal. Não vendo outra alternativa senão obedecê-la, assim o fez.

-Krioni, por que você fez isso!? – Gritou Skanfy.

-Ela derrotaria nós todos e iria sozinha. Não estamos em pé de igualdade com ela.

Já Camille, voltou no lugar exato onde houve a batalha da Indra em Demon Force de Nier contra os Dez Mandamentos. Andando pela terra arrasada, procurava onde ele estava, com dificuldades para achá-lo.

Até passar por uma árvore caída, onde viu o corpo dele escorado em uma árvore, sem vida. Um buraco em seu peito e outro em sua cabeça, além de toda a parte do abdome rasgada. Não importava o quão forte ele fosse, os Dez Mandamentos não perderiam para ele juntos.

-Nier... – Falou chorando se aproximando dele. – Nier...! Nier!


Ela abraçou sua cabeça, chorando alto. Qualquer fada curiosa perto dali conseguiria a ouvir, enquanto se lamentava pela morte dele. E assim seguiu, até a luz do dia começar a iluminar a Floresta das Fadas.






















































-Onde está Camille? – Questionou Skanfy.

-Fazem três meses já... – Krioni assoprava a fumaça do cigarro ao vento. – E respondendo à pergunta, não faço ideia.
















































-Uma anja carregando um caixão? Isso é maluquice! Deve ser uma executora de Avalon.

-Bom, se a ver tome cuidado.
















































-Ei, Lilian. – Takashi apareceu atrás da gigante.

-Sim? – Respondeu ela, tentando parecer alegre.

-Você viu a Mama?
















































-Rei Havoc, alguns reis humanos gostariam de marcar uma audiência com o senhor.

-Certo. Diga-os que estarei em breve na nossa sala de reuniões. – Respondeu se levantando do trono.